Não vai mais ter tristeza aqui – Uma entrevista com Rodrigo Koala

Por Fernanda Saraiva

Rodrigo Sanches Galeazzi conhecido como Rodrigo Koala, é vocalista e guitarrista da banda nacional de hardcore melódico Hateen. Esta é, sem sombra de dúvidas uma das bandas mais influentes na cena independente e o Hateen carrega na sua história uma legião de fãs apaixonados (posso dizer isso, pois me tornei uma dessas, o que o próprio Koala classificou como “hateenzete” risos), que cantam, esbravejam e até choram ouvindo as músicas do principal compositor da banda. Koala traz na bagagem musical a guitarra da banda Street Bulldogs. Além de um ótimo músico, o Koala é um cara bem família e muito gente fina.

Tive o prazer de conhecer o Koala pessoalmente no dia 07 de agosto deste ano no Projeto Bandas Novas, em Osasco, cidade que sempre acolheu a cena independente, e agora está tentando reativar essa chama que nunca devia ter se apagado. Demorou um pouco, mas o Koala cedeu uma entrevista exclusiva que vou deixar que desfrutem.

 

 

 

 

 

 

Leia ouvindo Perfeitamente Imperfeito – Hateen

Hateen no Projeto Bandas Novas (Foto: Fernanda Saraiva)
Hateen no Projeto Bandas Novas (Foto: Fernanda Saraiva)

São Paulo Não Quer Ser Cinza – O último álbum do Hateen (Obrigado Tempestade) foi lançado em 2011, e desde então os fãs da banda se depararam com certo sumiço, tanto em questão de novos trabalhos quanto em shows. Como foi o preparatório para o lançamento deste novo disco?

Rodrigo Koala – Sumiço? Hehehe eu diria que estendemos a turnê do “Obrigado Tempestade” ao máximo que podíamos, pois foi um disco que nos tomou muito trabalho e foi muito bem recebido pela galera, logo após o lançamento do disco, nosso baterista foi morar fora, e começamos a revezar a bateria entre o Japinha e o Thiago. Mas sempre que tinha show do CPM22, o Japinha não podia tocar com a gente, então achamos melhor e mais viável efetivar o Thiago na função das baquetas. Compor no Hateen, é em 95% função minha, por minha escolha. Mas isso também faz com que as coisas demorem um pouco mais para acontecer. Sou chato pra caramba com a questão das letras e melodias, e acabo fazendo várias gravações de pré-produção em casa sozinho, antes de mostrar as músicas para a banda e começarmos a ensaiar e cada um ir colocando sua personalidade na música. Demoramos para lançar um novo disco sempre. Não é um fato isolado.

SPNQSC – De onde surgiu a ideia do nome do novo álbum “Não vai mais ter tristeza aqui”? Comente um pouco sobre.

RK – Nós queríamos um nome que soasse positivo. Que pudesse se conectar com a fase que estamos vivendo atualmente, que fala sobre superação, sobre ir além, em todos os sentidos. Por ser um nome grande, achamos ainda mais legal. Quando a gente está pensando em nome de disco, sempre pintam várias opções, mas sempre optamos por uma que realmente todos da banda gostem… Ee foi assim, novamente.

SPNQSC – A banda trabalha junta nas letras das músicas? De onde sai inspiração para escrever músicas tão profundas?

RK – Eu escrevo basicamente as letras sozinho. Busco inspiração nas coisas que vivo ou vejo serem vividas. É tudo parte de mim. Fragmentos, inspirações, momentos…. Difícil dizer de onde vem tudo isso. Pego caneta, papel e escrevo. Risco. Escrevo de novo. Até encontrar sentido no que está ali.

SPNQSC – Como se deu a escolha das parcerias do álbum “Não vai mais ter tristeza aqui”? (A nível de conhecimento dos fãs: o produtor musical Lampadinha ajudou na produção do álbum, além da direção musical de Paulo Anhaia e participações especiais de Dani Vellocet (ex-Mecanika) na música “Passa o tempo” e Rodrigo Lima (Dead Fish) na música “Perdendo o controle”.

RK – Somos fãs do trabalho de todos os envolvidos. No caso da produção do Lampadinha e Paulo Anhaia, é algo que já acontece desde nosso disco “ Procedimentos de Emergência” de 2006. Gostamos muito do trabalho deles, além de serem grandes amigos. O Rodrigo e a Dani, foram escolhidos por serem referência musical não só para a gente, mas para muitas pessoas. São músicos incríveis que temos a honra e o prazer de poder trabalhar junto.

SPNQSC – Qual composição te deixa mais orgulhoso, ou qual você tem uma relação pessoal intensa?

RK – Gosto muito da faixa título, ”Não Vai Mais Ter Tristeza Aqui”, ”12 passos”, ”Passa o Tempo” e “Despedida”. Tenho uma relação pessoal e intensa com todas as músicas que já fiz…até as que fiz para outras bandas. Como te falei, é minha vida, meu mundo.

SPNQSC – Se os discos pudessem ser comparados a uma pessoa, como você enxergaria a maturidade presente no álbum atual e o crescimento e evolução do homem desde o primeiro trabalho?

RK – Difícil essa hein? Uma pergunta de profundidade antropológica hehehe. O disco é exatamente como ele soa. Um Hateen mais maduro, mais atento à vida. É o que acontece com quem não tem mais 20, 25 anos de idade. Abre-se o leque do que é bonito, feio, bom ou ruim. Tudo fica mais amplo em termos de visão do mundo como um todo. Hoje podemos perceber coisas que não éramos capazes com 20 anos de idade, e tudo isso nos afeta de formas que não teria como naquela fase. É fazer sua música crescer com você, e isso tem um preço, que te faz se arriscar mais. Eu gosto dessa evolução e busco continuar mudando sempre.

SPNQSC – O que vemos do Hateen é uma banda familiar, que se preocupa com os problemas pessoais e de repente, os fãs são surpreendidos com a notícia de férias do baixista Leon Luthier, assim como você fez para ficar com sua família. Como vocês decidiram essa saída e as apresentações acústicas?

RK – Não temos a visão de que a banda seja a coisa mais importante em nossas vidas, e sim, que ela é parte de nossa vida. Se precisamos de um tempo, seja para passar mais tempo com a família, ou pra merecidas férias, a gente simplesmente respeita a vontade de todos na banda. Gostamos de tocar, queremos ter prazer tocando, e não que isso seja um trabalho estressante. Estamos num ponto da vida, onde buscamos ser melhores, seja na música ou como pessoas, amigos. Existe um respeito muito grande entre a gente, e só isso nos mantém juntos.

SPNQSC – Depois de tanto tempo no meio undergroud, como é a vibe da banda no estúdio, na estrada e nos shows?

RK – Nós ainda nos divertimos muito. Acho que cada vez mais. É só por isso que tudo ainda faz sentido. As risadas, os momentos juntos fazendo música, ou viajando por horas numa van até um show, acabam se tornando, momentos de prazer e amizade inigualáveis.

SPNQSC – O Hateen começou cantando músicas em inglês. Depois de um certo tempo resolveram parar e cantar música em português. Vocês ainda pensam em fazer gravações em inglês ou atualmente a banda se “aportuguesou”?

RK – Tenho pensado em gravar algumas músicas em inglês, mas talvez para um disco solo. Acho que o Hateen está concentrado demais na questão de cantar em português. Já é um ponto em comum entre todos na banda, e adoramos poder fazer isso. Queremos nos comunicar. Queremos que as pessoas possam entender nossa música sem dicionários, ou pesquisas. Acho que a mensagem que passamos pode ser mais bem recebida assim.

SPNQSC – Vocês sentiram alguma mudança na aceitação do público quando rolou essa mudança de idioma?

RK – Claro. Muitas fãs reclamam até hoje hehehe mas eles entendem que isso é algo que está além da vontade deles. É o que a gente quer fazer, e acabam entendendo e respeitando, embora os mais saudosistas reclamem.

SPNQSC – O Hateen tem anos de estrada. Já vimos muitas bandas amigas acabarem, e muitas bandas surgirem. Como vocês classificam a cena atual?

RK – Nem sei se existe mais cena. Existem bandas, existem casas de shows, mas não parece haver união entre tudo isso. A chamada cena, depende da simbiose de todas as partes. Eu percebo muita gente caindo de paraquedas seja em bandas ou em produção de shows. Em busca de fama, dinheiro, ou sei lá eu, mas acho que estamos passando por um momento de mudanças decididas em relação à tudo isso. As coisas estão mudando, e acho que só o futuro poderá dizer se essas mudanças serão boas ou não.

SPNQSC – Além dos acústicos, tem alguma surpresa que vocês estão preparando para os fãs?

RK – Queremos fazer um DVD em breve. É uma parada que vai demandar bastante trabalho, além de grana, ou seja, não será fácil. Mas para a gente, nunca foi, então, vamos nessa!

SPNQSC – Para fechar, fale alguma coisa para os fãs e leitores do SPNQSC.

RK – Ouçam música. Leiam. Vejam filmes. Mas além de tudo, saiam do computador um pouco. A vida está além daqui.

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